Exame deixa idoso entre a vida e a morte
Um
exame que deveria ter servido para esclarecer “umas dores de estômago” e
“uma má disposição” que um homem de 76 anos, residente em Chaves,
sentia frequentemente, acabou por lhe provocar uma pancreatite aguda
edematosa, uma infecção do pâncreas, que o deixou entre a vida e a
morte. O Hospital diz que a “complicação surgida é um efeito frequente
do exame”. No entanto, a família do doente garante que o hospital não
informou ninguém (nem família nem o próprio doente) dos riscos que o
exame envolvia. E, por isso, promete recorrer à justiça. A unidade
hospitalar assegura que o doente assinou um termo de responsabilidade. A
família nega e fala em possível “falsificação”.
A
família de um homem de 76 anos, que há cerca de duas semanas foi
submetido a um exame no Hospital de Chaves, que o deixou “entre a vida e
a morte”, está a acusar esta unidade de saúde de não ter informado o
doente nem a família dos riscos que o dito exame envolvia. E, por isso,
promete levar o caso a tribunal.
Joaquim
Esteves, que até à data de fecho desta edição (terça-feira) se
encontrava internado nos cuidados intensivos do Hospital de Santo
António, no Porto, “entre a vida e a morte”, deu entrada no hospital de
Chaves no passado dia 4. E era suposto sair no dia a seguir, após a
realização de um CPRE (colangeopancreatografia retrógrada endoscópica),
um complexo exame radiográfico ao pâncreas, que incluiu também uma
esfíncterplastia (um processo que visa o alargamento de um canal
entupido) prescrito pelo médico de família, a quem Joaquim se queixara
de “frequentes más disposições” e “dores de estômago”. Ao que o
Semanário TRANSMONTANO conseguiu apurar junto do director clínico do
Hospital de Chaves, Gil das Neves, o médico de família terá prescrito o
CPRE, “para saber o que estava a causar a dilatação de uma via biliar,
detectada numa ecografia pedida anteriormente” ao paciente.
Família contradiz hospital
No
entanto, após o exame, que, segundo o director clínico mereceu também o
“parecer favorável” de um gastrenterologista, Joaquim começou a passar
mal. Foi-lhe diagnosticada uma pancreatite aguda edematosa, uma
infecção grave do pâncreas, que pode levar à morte. Assumindo que,
“muito provavelmente, a complicação foi causada por uma lesão do órgão
causada durante o exame”, Gil das Neves, assegura, no entanto, que se
está perante um “efeito secundário frequente” do exame. E acrescenta que
a doença foi “rapidamente detectada e o doente tratado para essa
complicação”, à qual dias depois se juntou outra: uma pneumonia.
Contudo, os filhos do doente asseguram que nem o pai nem eles foram
informados dos “gravíssimos riscos colateriais” do exame e que Joaquim
não assinou o “termo de responsabilidade”, exigido para a realização de
uma CPRE. “Se eles tivessem dito ao meu pai dos gravíssimos risco de
vida que corria ao fazer o exame, ele tinha dito pelo menos à minha mãe.
Além disso, enquanto ele esteve consciente eu perguntei-lhe milhares de
vezes se ele tinha assinado algum documento e ele garantiu sempre que
não tinha assinado nada”, assegura a filha do doente, Maria Teresa
Esteves, lembrando ainda que se ele tivesse assinado, o hospital deveria
ter-lhe dado uma cópia do documento, o que, garante, não aconteceu. Gil
das Neves assegura que a “declaração de consentimento informado”, vulgo
“termo de responsabilidade”, existe. “Se o doente entendeu ou não o que
lhe foi explicado, não posso garantir porque não estava lá, mas a
declaração com a sua assinatura consta do processo”, frisa o director
clínico. Em resposta, a família garante que “qualquer documento
apresentado é falso” e que está disposta a pedir um exame de grafológico
para comprovar a veracidade ou não da assinatura.
“O
meu pai entrou no hospital pelas próprias pernas, e a brincar. Agora,
por incompetência alheia, está entre a vida e a morte. Isto é muito
grave”, afirma a filha do doente, prometendo “virar o mundo” para
processar o Hospital.
Segundo
Maria Teresa o pai só foi transferido para o Porto, depois de ela ter
feito “muito barulho”. Gil das Neves garante que não foi transferido
antes porque “havia entendimento que lhe estava a ser feito o mesmo que
seria feito no Porto”.
350 CPRE por ano
Segundo
o director clínico do hospital, Gil das Neves, a média de CPRE
(colangeopancreatografia retrógrada endoscópica) realizadas anualmente
em Chaves é de cerca de 350. O exame é realizado por um médico
especialista em gastrenterologia com formação em endoscopia de
intervenção, que o hospital contrata para o efeito.
Data de Publicação: 24/03/2005
Artigo de: Margarida Luzio Comentários
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